terça-feira, 8 de dezembro de 2009

FAMÍLIA.


APESAR de. POR CAUSA de.



Quando se toca no assunto "família" parecem vir ao de cima, cargas, toneladas de "coisas" que emergem sabe-se lá de onde.

Vem o que vivemos. O que sentimos. O que ouvimos. O que guardamos na memória. O que é nosso. O que é dos outros. O que julgamos. O que guardámos em nós. O que pensamos. As penas e os amores. O que queríamos e o que tivemos. O que continuamos a querer e parece não encontrar "como". O que demos. O que não demos. O que não sabemos como dar. O que não sabemos como tomar. Porque de facto há "coisas" que não fazem mesmo qualquer sentido. De todo.


Mas se alguém disser mal da nossa família e que a ela não pertença... enche-mo-nos de brio e ai daquele/a que o diga. Pois estamos imediatamente prontos, para a defender. Mesmo com risco da nossa própria vida. "Isso é que era bom". "Era o que faltava". A coisa mais sagrada que temos, perante os outros, seja quem for, é a nossa própria família.

E porquê?...

Porque é através da nossa família que asseguramos a nossa própria existência.

Sem ela, não estaríamos aqui. Não existiríamos.

Quando pensamos nisso, é sempre em relação à nossa família de origem. Mesmo que no momento imediatamente a seguir nos venha uma lembrança que nos remete para uma dor (memória) que nos atormenta, proveniente dessa mesma, nossa, própria família.

A excepção a esta reacção, é quando encontramos um/a companheiro/a com quem damos início à nossa própria Família. A actual. Se for caso disso, para criar condições de estabilidade e sobrevivência, afasta-mo-nos da nossa família de origem para garantir "espaço" que faça às duas perdurarem no tempo e nos nossos corações. (Memórias).

É claro que nem sempre isto é necessário, porque até podemos encontrar "alguém" com quem se torna possível manter essa convivência de modo são. Equilibrado. Harmonioso ou sobre, "tensão ajustável".

Quando não, criamos uma ruptura "saudável" que mantenha a possibilidade de criar vida (filhos) de forma segura para com as duas famílias. A continuação da existências dessas duas famílias depende desse precário equilíbrio. (Exclusão).

O elemento fulcral é sempre aquele que estabelece a ligação entre essas duas famílias. O filho/a que se afastou para garantir a existência da família que aceitou criar com seu companheiro.

A esta "exclusão", é inerente um "amor" enorme!

Só um amor enorme permite a uma pessoa afastar-se, excluir-se para garantir que o seu amor (por) seja reconhecido noutro (por alguém) que justifica a exclusão e ao mesmo tempo, "o Retorno a Casa".

Não há nenhum filho / excluído que não anseie pelo retorno ao seio da sua família. Para quê? Para finalmente poder ver reconhecido o amor que lhes tem e que pura e simplesmente, não pode ser entregue.

É a entrega deste amor que nos faz girar à volta do mundo e mais além, vezes e vezes sem fim num enorme carrossel que uma vez feito, concluído, permite-nos sentir, "realizados".

Até lá, continuamos a deambular pela vida, esperando por essa, "oportunidade".


Por isso, apesar da família que temos e por causa do amor que lhe temos, continuamos a viver vidas que possibilitem o resgate da oportunidade da entrega reconhecida, desse amor.

E quando a impossibilidade nos transcende, "vale tudo".

A dor sobrepõe-se e "tudo" se justifica.


Mas há um "lugar" onde tudo faz sentindo.

E é na procura desse "lugar" que percorremos "vidas" de "enganos".

Quando, de facto, chegamos lá, sentimos uma paz e uma tranquilidade que nos inunda. Porque na compreensão de algo "maior" está a libertação desse vínculo de "entrega e reconhecimento".

Nesse lugar, encontramos precisamente aqueles por quem percorremos "eternidades".

A esse lugar, podemos chamá-lo simplesmente, Amor.




Att.


Luís Viegas Moreira


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